Gastar seu tempo (e seu dinheiro) com algo que não te representa é uma forma silenciosa de se desligar de si mesmo. É pintar a parede de uma cor que não ama só porque está em alta. É escolher móveis que impressionam, mas que não funcionam no seu dia a dia. É adaptar seu gosto ao gosto dos outros — montar cenários prontos, tendências alheias, modelos públicos — como se quisesse enquadrar sua vida num catálogo. E aí vive-se na superfície. E se gasta muito — de energia, de aclimatar-se a algo que não casa. E tudo isso pesa: no bolso, no tempo, no bem-estar.
Se você está num momento em que pode escolher, quero te convidar a isso: a olhar para dentro. A perguntar o que você realmente gosta. Não o que “fica legal”, mas o que te acalma, o que te anima, o que te faz sentir em casa. E não há pressa. Se precisar experimentar, testar, errar — tudo bem. Porque autenticidade não é algo que se compra pronto; é algo que se refina com uso, com convívio, com escuta de si mesmo.
É curioso como, quando a gente tem mais recursos, ganhamos portas — de lojas, opções, marcas que antes pareciam distantes. E é ótimo: dá liberdade, dá chance de realizar sonhos que antes ficavam só no imaginário. Mas essa liberdade também cobra. Nem sempre em voz alta, mas cobra. Cobrar exatidão no “quem sou eu”, no que me importa, no que quero sustentar. Porque dinheiro abre possibilidades — mas ele não pode se tornar uma coleira invisível ao redor do gosto, do estilo, da identidade.
E na arquitetura — no design dos seus ambientes — essa escuta se traduz em escolhas conscientes: materiais que duram, objetos com significado, espaços que façam sentido pra sua rotina. Escolher cores que te acalmem, acabamentos que não exijam manutenção constante, móveis que acomodem seus movimentos diários — e que deixem espaço pra evolução, pra mudança.
Porque, sim: universo de possibilidades é sedutor. É estimulante olhar vitrines, perfis, revistas, ver aquilo que outras pessoas amam. Mas a vida de fato acontece nos detalhes imperfeitos do seu espaço. No decantar de manhã, na luz que entra pela janela certa, no sofá onde você reprisa suas histórias. É aí que se mede o custo real de uma escolha: será que vale trocar exclusividade por alma? Estética por conforto? Aparência por sustento interno?
Ter dinheiro para gastar é uma bênção — e também uma chance. Mas que ela seja usada para construir, e não para camuflar. Que seja instrumento de expressão, e não de comparação. Que o espaço que você habita fale sua voz, e não a voz de tendências ou expectativas alheias.
Porque no fim das contas, cuidar de si é também cuidar do espaço onde habita. E um projeto que respeita isso — que respeita tempo, identidade, rotina e afetos — é um projeto que sustenta. Que merece cada centavo investido.
Grata pela visita e pelo seu tempo,
Ulla.
