O seu Medo e a minha Parede de Chocolate

Em alguma sala por aí, tem alguém dizendo: “Marquei com a arquiteta.” Sim, a gente sabe. Dá uma travadinha antes de chamar. Você pensa se não vai parecer bobo, se vai conseguir explicar o que quer, se vai dar trabalho, se vai ser caro… E a gente entende. De verdade. Quando consulto qualquer profissional fora da minha área, também sinto tudo isso.

O que ajuda nesse momento é tentar ser o mais claro possível. Identificar o que você quer — e o que ainda não entendeu. É um trabalho de olhar pra dentro e tentar traduzir isso em palavras. A partir dessas pistas, o processo vai sendo construído, até encontrarmos uma solução que faça sentido. Essa disposição de se escutar primeiro é essencial: quanto mais você se entende, mais fácil é se comunicar com quem vai te ajudar.

Mas deixa eu te contar uma coisa: do lado de cá também tem alguém sentindo esse friozinho. Porque cada conversa nova é um encontro — e com ela vem a responsabilidade de acolher, compreender e traduzir o que é importante pra você. A gente também se pergunta: “Será que vou entender direitinho? Será que vamos nos conectar?”

E aí às vezes você solta: “Será que meu espaço está errado? Será que comprei tudo errado até agora?” E eu te devolvo com carinho essa pergunta: “Errado pra quem?” Porque talvez a resposta seja: não está errado — só está esperando fazer mais sentido pra você.

Vou te contar da minha “parede de chocolate”. Escolhi um papel de parede pro meu quarto — tom chocolate, combinando com tudo ao redor, textura bonita, aplicação perfeita. Estava tudo certo. Até que meu filho entrou e disse: “Nossa, parece uma parede com chocolate derretendo.” E eu nunca mais consegui “desver”. Minha alegria com o papel novo durou exatas 5 horas. Tecnicamente, estava tudo certo. Mas somos humanos. E foi exatamente por essa humanidade que resolvi manter o papel de parede. Porque, pra mim, hoje ele carrega esse momento: o comentário do meu filho, o susto, a risada interna… e agora, toda vez que entro no quarto, penso na tal parede de chocolate. Pra mim, Ulla, isso tem mais valor. Talvez outra pessoa trocasse no dia seguinte — e tudo bem. Não é sobre certo ou errado. É sobre o que faz sentido pra você. São essas humanidades que fazem um espaço ser tão seu.

É claro que, ao falar com um profissional, você não precisa contar sua vida inteira. Mas é importante que eu entenda o que é essencial pra você. E isso aparece nas sutilezas: no seu “Ulla, gostei”, ou “Ulla, ainda não conversou comigo”. A partir daí, a gente vai refinando juntos. Às vezes, o que está faltando é um detalhe com carga emocional — uma cor, um objeto, uma memória. Algo que te acompanha e faz sentido estar ali, mesmo que você ainda não tenha nomeado. A mim cabe perceber, te perguntar, traduzir. A você, cabe sentir. E esse processo de escuta mútua é que constrói um ambiente com verdade.

No fim das contas, somos todos pessoas. Que riscam o chão da sala sem querer, que erram em compras pra casa, que vivem dúvidas parecidas. E talvez seja justamente isso que nos faz acolher com mais empatia — e transformar esse medo inicial em confiança.

Grata pela sua vista e pelo seu tempo,

Ulla.