Quando a gente começa a pensar num novo projeto — seja de casa nova, de reforma, de decoração — é comum buscar referências inspiradoras. Mas existe uma linha tênue entre inspiração e ilusão. E é aí que mora um cuidado necessário: não dá pra criar um espaço para uma vida que você não tem. Pode (e deve) ser um espaço que reflete o que você deseja viver… Mas ele precisa ser possível. Sustentável. Acessível dentro da sua realidade — ainda que seja uma realidade em transformação.
Projetar um espaço é mais do que colocar a parede certa no lugar certo. É olhar com respeito para a vida que habita (ou vai habitar) ali. Para o que é necessário hoje — e o que pode se tornar viável no futuro próximo. Para o seu desejo, mas também para a dinâmica de quem vive com você. Para o que você ama, mas também para o que os outros precisam. Não adianta criar um ambiente que exige esforço excessivo pra se manter, que demanda tempo, dinheiro ou energia que você não tem. Também não adianta montar um espaço que só serve pra ser admirado, mas que oprime ou ignora a rotina de quem convive ali. Uma casa não é só sobre você. É sobre como você se relaciona com os outros — e com o tempo.
Por isso, a pergunta não é só “o que você quer?”; é também: isso cabe na sua vida agora? Ou no seu futuro próximo? Você está disposto(a) a manter esse estilo de vida? As pessoas que compartilham o espaço com você foram ouvidas? Essa escolha é sustentável ou é uma fantasia momentânea? Isso não quer dizer abrir mão de tudo ou deixar os sonhos de lado. Pelo contrário. Um bom projeto é aquele que respeita seu desejo — mas também respeita seus limites. E, acima de tudo, respeita quem você é hoje, com espaço pra quem você quer se tornar.
Porque a vida cobra. Cobra manutenção, tempo, rotina, convivência, reajustes.
E ninguém é Deus. Ninguém acerta tudo.
É possível fazer escolhas mais conscientes. Projetar com verdade é entender que estética e funcionalidade podem caminhar juntas. Que sua identidade pode estar presente sem virar um peso pros outros. E que coerência não tem nada a ver com perfeição — tem a ver com intenção.
O seu mundo possível talvez não seja o mais espetacular aos olhos de fora. Mas, se for verdadeiro pra você e respeitoso com quem vive junto, ele será sempre o mais valioso.
Grata pela visita e pelo seu tempo,
Ulla.